Quando a presidente saudou a mandioca, o brasileiro fez piada. Quando o presidente atual saudou a cloroquina, o brasileiro aplaudiu de pé. Talvez o brasileiro prefira remédio do que comida.
Vai entender, o patriota brasileiro é estranho. Não gosta do cinema brasileiro, da música brasileira, não conhece a arte nem a literatura do seu país e acha que viajar pelo Brasil é cafona. Bonito mesmo, para ele, é Miami e tudo mais que for americano: sanduíche americano, cozinha americana, festa americana, conjunto americano (Lojas Americanas não, porque o patriota gosta mesmo é de outlet). Esses dias vi uma tapioca “tipo americano” no supermercado – realmente não existem limites para o viralatismo.
O patriota tem muito orgulho dos seus ascendentes e das suas origens italianas. Ele fica muito bravo, incazzato, quando alguém quebra o macarrão ao meio, mas desconhece totalmente seu passado indígena e a história dos povos naturais do Brasil. É um tipo de tesão por caravela, fetiche com colonizador.
Os patriotas de tempos atrás, cuja maior diferença dos atuais era a camisa verde em vez da amarela, pelo menos diziam anauê. Os de hoje não conhecem um moquém nem têm ideia do que seja um arubé. Imagino que muita gente também não saiba, e realmente não é obrigação de ninguém. Ou melhor: é sim. Quem bate no escudo da CBF no peito para colocar o Brasil acima de tudo tem o dever cívico e moral de saber.
O patriota acha incrível descobrir a exótica culinária de um novo restaurantezinho quirguistanês, mas ignora a comida da Amazônia. Ah, se ele soubesse o valor que uma caldeirada tem. Tomava banho de rio e virava índio também. Leite de coco, coentro, pimenta… Ficam uma delícia no pad thai, mas também na moqueca baiana. Adoro o primeiro, mas por que só ele é considerado sofisticado?
Saudemos a mandioca. Dela se faz não só a tapioca, que é nossa, é indígena e é sucesso no mundo todo, mas também o sagu, o chibé, o beiju. A vaca atolada e o escondidinho. A farofa, que também é patrimônio nacional, e a farinha que engrossa o caldo do tutu de feijão em Minas ou do pirão de bagre em Paranaguá.
Saudemos a mandioca, sim! Saudemos a mandioca mais do que nunca, porque ela é a diferença entre quem ama seu país e suas raízes e quem não passa de um simples patriota.